Distanciamento Surreal

Parei de escrever faz muito tempo
Trancada no meu quarto, só lamento
Enchendo a cara de álcool e comprimidos
Lembrando do passado “como tudo era tão lindo.

Cheguei ao fim de mais um ano crítico
Vai me dizer que eu sou forte e que te inspiro
Mas tô sofrendo muito desde o início
Mais um mês trancada em casa e juro que eu piro

A depressão mata mais e mais a cada dia
Só cresce entre nós a taxa de suicídios
Não é fraqueza ou força tirar a própria vida
É o desespero gritando e ninguém tá ouvindo

Ninguém olha no olho, ninguém se toca
Estamos longe daquilo que mais importa
Me acham louca demais, eu sou humana demais
Choro com a dor de quem nem pôde se despedir dos pais

Sonhei a noite que éramos livres
Saindo nas ruas, encontrando os amigos
Acordei com a mesma notícia na TV
Distanciamento é necessário pra sobreviver

Até quando lutarei pela sobrevivência doa meus? A noite ajoelhei e pedi a proteção de Deus. Quero sair pela manhã e ver sorrisos na rua. Mas isso tá distante da verdade nua e crua.

Raissa Muniz

Costumávamos ser livres

Costumávamos ser livres
Andar nas ruas sem temer
Sorrindo e festejando com os amigos
Música alta, teu toque me fazia tremer.
.
Costumávamos ser livres
Do mal estamos nos escondendo
Atrás de uma estante de livros
Lá fora o mundo está fedendo.
.
Tenho medo do mundo,
De cada lugar em que estive
Absorvi o que havia de profundo.
.
Quero respirar sem reserva
Estou presa há muito tempo
Nem amor nem ódio me preserva
Tudo tem sido apenas momento.
.
Costumávamos ser livres sem corte
Agora resta o medo da morte
Viverá quem tiver sorte
Vencerá quem for mais forte.
.
Raissa Muniz

Me Mantém Viva

Eu não escrevo por diversão
Entenda o que tenho escrito
Poesia não é parque de ilusão
Cada poema meu é um grito
.
Não é questão de ter fama
Mérito, dinheiro , sucesso
Confundi quem realmente me ama
Chorando no banheiro escrevi o melhor verso
.
Ninguém conhece as dores
O medo que no peito carrego
Quando eu morrer não traga flores
Se agora o que te importa é o ego
.
Escrever me mantém viva,
Faz com que eu não me corte
faz com que eu não me mate
Eu não escrevo por esporte.

Raíssa Muniz

Meu Fim

Previ o fim desde o começo
Abro um gym e recomeço
No teu olhar me reconheço
Me tira o ar, eu enlouqueço
.
Eu que jurava que era feitiço
Me embriaguei com teus resquícios
Só uma dose virou meu vício
Me vi a beira do precipício

.
Era tudo questão de fé

Já me bastava ficar de pé
Sempre andando em marcha ré
Fingindo ser o que não é

.

Pude voar
Perdi o ar
Tentei voltar
Perdi meu lar
R. Muniz

Crises

E no meio de tudo

Pensar no futuro

Tô em cima do muro

Fugindo do mundo

Crises, crises, crises

Essa voz que não cala

Por vezes me abala

A ferida não sara

Já refiz minha mala

Crises, crises, crises

Cansei de chorar

Faça o mundo parar

Vejo tudo rodar

Minha fé esgotar

Crises, crises, crises

Não aguento mais

Nunca chego ao cais

Minha força se vai

Peço perdão aos meus pais

Crises

Crises

Crises.

“- É apenas uma crise”

Raíssa Muniz

Não me deixa morrer

• Setembro Amarelo

A vida pode ser pesada demais
Pessoas vivem mandando sinais
Seus medos, são medos reais
Ainda existem amigos leais?
.
Só uma ligação nessa madrugada
Madrugada fria que meus ossos esmaga
Lágrimas quentes, coração gelado
Dói viver na multidão mas sem alguém ao lado
.
Sofri por um ano inteiro
Afundei cada pedaço meu por inteiro
No drama da vida real atuei
Pareceu que não era nada porque calei
.
Se eu falar, vai me ouvir?
Se me ouvir, vai entender?
Se não entender, vai discutir!
Só peço um favor: não me deixa morrer!

Raíssa Muniz

Agonia

issa-agonia

Muitas vezes me senti sozinha, mesmo estando acompanhada de muitas pessoas. Passei momentos de profunda tristeza, mesmo sorrindo aos ventos. Hoje em dia não me preocupo mais em ficar me contendo, não me envergonho em externar meus reais sentimentos.

Pode não parecer que sou eu, mas agora qualquer “bobagem” me deixa extremamente triste, sobrecarregada, com uma dor no peito que parece que vou morrer. E eu nem me importo em transbordar, externar tudo que sinto.

Talvez seja resultado de todas as vezes que sorri por fora e chorei por dentro.

Talvez seja o acúmulo de decepções mal superadas (que eu fingi superar).

Talvez todos esses sentimentos negativos sejam um reflexo, ou melhor, uma consequência de todas as vezes que engoli o choro; dei colo quando eu precisava de um; do quanto tentei resolver a vida das pessoas, sendo que a minha estava precisando de solução.

Tudo isso pode ser visto como a porta de um quarto escuro, se abrindo pra que todos vejam, finalmente, a bagunça que tem aqui dentro.

 

R. Muniz